sábado, 2 de agosto de 2014

Lembrar.

 Construiu uma máquina do tempo e agendou uma viagem pra o futuro. Relativizou seus sentimentos e se perdeu entre a covardia e o egoísmo. Juntou lembranças e fotos desbotadas em uma mala e se pôs a caminhar a esmo. Buscava, longe, uma alternativa pra o seu descontentamento crônico. Ergueu um castelo de areia à beira mar e passou a adorar uma sereia. Sonhava com possibilidades remotas e enredos impossíveis. Achava que o martírio era perdão e que as coincidências eram todas ingratas. Escreveu um livro de memórias inventadas cheio de digressões fora de nexo. Desfez amizades por egocentrismo e megalomania. Suplicava esmolas pra não morrer de fome. Era prisioneiro de si, seu próprio refém, seu algoz e sua vítima. Descobriu que haviam lhe posto raízes profundas e antigas. Viu-se num poço de culpas vãs. Eram remorsos inúteis que guardou por incapacidade de interpretar o passado. Sorriu, porque só restava sorrir, porque era absurdo. Lembrar é perene.