segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Meias verdades.

Uma pedra lhe enfeita o lado de dentro do peito. Lá onde não bate luz, onde ninguém vê, uma pequena rocha incrustada por trás das costelas faz seu tronco pesar. E quando chegam sofrimentos, mágoas, ressentimentos, descaminhos, ofensas, remorsos, saudades, a pedra rola. Por dentro, carnes são rasgadas, vértebras deslocadas, artérias puídas. Ele ainda não se acostumou à dor, ao mover da pedra, à gravidade da queda. Ainda chora, soluça e treme. Alheios a ele, firmes, os minerais não se desprendem, não se intimidam, não se rompem. Só há a pedra, bruta, laminada, inconsequente, sobressaindo no peito vago, machucado. E, no fim, há vísceras que não restituem, há pedaços que sobram, veias que permanecem sobressalentes, pontas soltas.  E, pouco a pouco, a pedra é amolada, o corpo diminui e a falta sobra.