Uma pedra lhe
enfeita o lado de dentro do peito. Lá onde não bate luz, onde ninguém vê, uma
pequena rocha incrustada por trás das costelas faz seu tronco pesar. E quando chegam
sofrimentos, mágoas, ressentimentos, descaminhos, ofensas, remorsos, saudades,
a pedra rola. Por dentro, carnes são rasgadas, vértebras deslocadas, artérias
puídas. Ele ainda não se acostumou à dor, ao mover da pedra, à gravidade da
queda. Ainda chora, soluça e treme. Alheios a ele, firmes, os minerais não se
desprendem, não se intimidam, não se rompem. Só há a pedra, bruta, laminada,
inconsequente, sobressaindo no peito vago, machucado. E, no fim, há vísceras
que não restituem, há pedaços que sobram, veias que permanecem sobressalentes,
pontas soltas. E, pouco a pouco, a pedra
é amolada, o corpo diminui e a falta sobra.