sábado, 30 de novembro de 2013

Do que não muda.

          Com a vela da nau quebrada, velejei por águas perigosas antes de pisar em terra firme. Com o mastro quebrado, o lastro a bombordo penso, meu navio chegou mal tratado à praia. Velejando solitário, não reconheci palmeiras tropicais, o rosto dos nativos e a própria areia fofa preenchendo minha bota furada. Me preocupei ao estranhar o mundo de forma tão aguda. Era como se meus olhos já não fossem meus. Era como se tivesse morrido no mar, entre a fúria de Poseidon e os encantos de Iemanjá, e apenas meu espírito ressurgido tivesse chegado ao continente. Já não sabia, exatamente, quem era eu, perdido entre o marujo que saiu do porto e o pirata que venceu a tempestade. Felizmente, eu continuava não gostando de açaí. Há coisas que nunca mudam. 

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