sábado, 30 de novembro de 2013

Do que não muda.

          Com a vela da nau quebrada, velejei por águas perigosas antes de pisar em terra firme. Com o mastro quebrado, o lastro a bombordo penso, meu navio chegou mal tratado à praia. Velejando solitário, não reconheci palmeiras tropicais, o rosto dos nativos e a própria areia fofa preenchendo minha bota furada. Me preocupei ao estranhar o mundo de forma tão aguda. Era como se meus olhos já não fossem meus. Era como se tivesse morrido no mar, entre a fúria de Poseidon e os encantos de Iemanjá, e apenas meu espírito ressurgido tivesse chegado ao continente. Já não sabia, exatamente, quem era eu, perdido entre o marujo que saiu do porto e o pirata que venceu a tempestade. Felizmente, eu continuava não gostando de açaí. Há coisas que nunca mudam. 

sábado, 2 de novembro de 2013

4:35 da manhã, 02/11/2013.

      Tua inconsciência pesada ocupando o espaço entre eu e você na cama. Teu joelho pálido saltando da fresta do lençol. Os remédios pra minha gripe jogados por todos os lados. Nossas roupas espalhadas no quarto abafado, suspenso no tempo. Onde foram parar nossas vidas? Existe vida além do que acontece dentro da Pousada Leste? O que fazemos agora, fora da Rua Henrique Lindenberg, número 28? Nosso amor, maior que 2.500 quilômetros de terras, céus e florestas, vela um mundo cheio de bêbados, solitários, insones, tristes, carentes, perdidos. Você é o farol que, de longe, me aponta o porto seguro. Navegarei num mar de saudades, risos, abraços, ternura, beijos, afagos. Lembranças que levo no peito pra logo, logo, refazer nos seus braços. Carrego memórias junto com a certeza de que eu sempre te quis, mesmo antes de aprender a querer, ainda antes de querer. Era você que eu sempre procurei.

à Thaís.