sábado, 14 de setembro de 2013

Do que só se publica quando passa.

       Ignorar mágoas, inseguranças, memórias, incompreensões. Seguir. Caminhar pé ante pé, com a precisão de quem se equilibra numa corda-bamba, com a destreza de quem compreende a queda. Ter respostas automáticas, perguntas pré-programadas, dizer o básico, mostrar o suficiente, calar quando possível. Fingir que não se sabe, que não se vê, que não se escuta. O cinismo é solidão. Os espaços vazios infestam o mundo. Às vezes eu sinto que todos estão presos e que a liberdade é uma ideia inventada pela inconsciência. Queria soar menos dramático, menos afetado, menos infantil. Minha cabeça pensa, pesa, procurando certezas, justificando motivos. É preciso ser cego, vesgo, míope pra ser livre. Meus olhos tão cansados, meus óculos quebraram, minhas pálpebras são transparentes. E eu paro, olho pra o espelho, marco sinais, espinhas, princípios de rugas, imperfeições, pra não esquecer de lembrar de mim. Eu ainda tenho medo de me perder por aí, tem sido difícil me encontrar esses dias. Embaixo das camas, à espreita, o medo dorme entre a poeira e os sonhos esquecidos.