Não há palavras. Não há verbos.
Adjetivos. Substantivos. Pronomes. Não há artigos. Não há pensamento. Há o
estar e o existir. Há ela. Há ela estando e existindo. Há seu rosto na
contraluz e sua respiração tranquila. Não há mais eu. Há ela embrulhada no cobertor
com a cabeça afundando o travesseiro. Há o quarto escuro. Não há mais nada lá fora. Não há sentido ou incompreensão. Não há
pensamentos, suposições, teorias, divagações, lógicas, preocupações, anseios,
trabalho, televisão, frustrações, complexos, pobreza, fome, injustiça, violência,
hipocrisia, pessoas, mundo. Há seus traços delicados e sua pele pálida. Há sua
inconsciência abraçando o tempo/espaço. Há o peito quieto e a cabeça vazia. Há
um nirvana, tímido, silencioso. Há o presente se espreguiçando tranquilo pela madrugada. E ela dentro nele. Não há mais nada.
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