“A gente é a soma de pequenas tragédias”,
pensou em dizer. A bunda dela reluzia sob a luz distante do poste da rua. De
bruços, sentiu vontade de jogar cera quente e torna-la estátua, resumi-la a
objeto oco. Depois abriria a casa e deixaria estranhos invadirem seu quarto
para vê-la inerte. Não cobraria nada. Ninguém deveria pagar pra ver as coisas
bonitas só porque a gente vê tanta merda de graça. “Somos estrangeiros de uma
pátria sem bandeira, sem capital, sem gente, sem ordem”, ele murmurou. Ela
respirou fundo e as costelas se expandiram suavemente enquanto o cabelo lhe
caiu sobre a cara. Sentiu-se ridículo por falar sozinho e por dizer coisas
estúpidas por falta de testemunhas lúcidas. Olhou para o teto e tentou
distinguir as linhas entre as madeiras do forro no escuro. Acariciou os cabelos
castanhos dela como quem acaricia um gato gordo ronronando no colo. Nunca
compreendera muito as outras pessoas. Não acreditava em mágica, jornais, metafísica,
biscoitinho da sorte, previdência social, milhas aéreas, publicidade ou no
futuro. Sabia apenas que o mundo adormecia entre aquelas pernas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário