Sentia as gotas de suor empapar a
camisa, cada vez mais colada ao corpo, enquanto a náusea crescia no estômago. Pensou
em abrir o punho, largar as barras e tombar ali, desistindo do mundo. Repensou
porque atrasaria a chegada de todos que, como ele e, mais que isso,
independente dele, queriam apenas sair daquela panela.
Ela havia se debruçado, curvando a coluna mais
do que o necessário, esticando as pernas pra fora do assento. Abraçou a
mochila e fechou os olhos. Suas sapatilhas tocavam o sapato dele de leve. Ele
notou a proximidade e se permitiu virar o pé direito três graus à esquerda,
aumentando a área de contato.
A pele branca dela brilhava no
sol que incidia sobre sua testa umedecida. As sardas e sinais se tornavam ainda
mais delicados na palidez reluzente do rosto. Ele desviou os olhos pra baixo e
fitou pálpebras trêmulas, cerradas, tentando evitar o excesso de luz. O enjoo
crescia. O piercing brilhando na extremidade da orelha direita. As gotas de
suor escorrendo sinuosas na tez angelical. O cordão dourado adornando o pescoço
elegante.
O calor infernal abafando o
peito. O chacoalhar nauseante em curvas fechadas a sessenta por hora. A
paisagem uniforme desfilando veloz pela janela. O seio pulsando na respiração
quase ofegante. Caberia na boca? Ela riria se ele contasse uma piada de mau gosto?
O mormaço girando a cabeça, a ânsia na
barriga, ela ali embaixo, o calor, a censura, as contrações nos músculos abdominais,
o líquido gástrico subindo o esôfago, o diafragma descontrolado, o vômito
sujando os cabelos negros. O torpor. O medo.
Todos olharam assustados. Ela
abriu os olhos instantaneamente sentindo um nojo e uma repulsa indescritíveis pra
alguém que nunca levou uma vomitada na cara descrever. Sua pele alva estava
suja pra sempre. Limpou-se desesperadamente com a blusa enquanto ele olhava
estático. O cobrador pediu pra parar. Atônico, ele levou a mão à boca e desceu
o mais depressa que pôde.
Na saída, ainda vomitou novamente
na roda do ônibus. Ainda viu o rosto dela, assombrada, sendo limpo por uma
senhora piedosa. Ainda pensou em subir lá e pedir perdão. Ainda pensou em se
jogar embaixo do carro. Ainda pensou em perguntar sobre seus sonhos e medos. Mas ela foi embora no sinal verde. Ele no
taxi. E mesmo tão íntimos, nunca se conheceram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário