sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A melhor foto da noite ou uma crítica babaca e óbvia que pode servir contra mim um dia.

 

      “Talvez a gente dê valor a essas coisas todas só porque a gente nunca teve nada disso”, falou Carlos. Ela acariciava a tela do celular, olhou para ele rápido e esboçou um sorriso. “Sabe, se nós fossemos ricos e pudéssemos viajar por aí, a gente iria se entediar com os jet lags, check-ins, hotéis com lençóis de seda e vista pra torre Eiffel...”, continuou. Ela entortou levemente os lábios, suspirou e disse “quem sabe”. Um tanto sem graça, o homem arriscou de novo. “Quanto menos se tem, menos se precisa pra se sentir satisfeito. Se tu deres um MacLanche Feliz pra um desses meninos de rua viciados em cola, ele vai ser a criança mais contente do mundo. Pelos menos por uns minutos”. “Nossa, que triste, mas faz sentido”, disse Ana, claramente desinteressada. Carlos perguntou se a estava entediando, se ela preferia que ele lhe contasse como havia sido seu dia, mas ela disse que não, que só estava “escolhendo a melhor foto da noite pra colocar no feice”. Então, Carlos respirou fundo, permaneceu de olhos fechados por cinco segundos e, quando abriu, notou que ela nem havia desviado o olhar do smartphone. Não percebeu sua irritação.

      Com calma, Carlos se levantou, afastou-se da cadeira, empunhou a faca com firmeza e a enfiou de súbito na jugular de Ana. Ela lhe olhou com terror e, finalmente, largou o celular sobre a mesa para levar as mãos ao pescoço. O sangue lhe entupia as vias respiratórias e a faca a perfurava até o cabo. Ana debatia as pernas desesperada enquanto sua expressão se tornava cada vez mais sinistra. Carlos rio do desespero de Ana, pois ela não conseguia balbuciar palavras com as bolotas viscosas se acumulando em sua boca. Finalmente, a mulher emitiu um último urro, pendeu para o lado e, caída, esvaneceu. O casal ao lado se divertiu com a cena. Um executivo, que jantava só, foi parabenizar Carlos pelo espetáculo. O garçom, enquanto recolhia o corpo de Ana, ofereceu a Carlos uma mesa limpa e arrumada para que ele pudesse completar sua refeição. Ele agradeceu e pediu desculpas pelo inconveniente. Antes, Carlos sacou o seu Iphone do bolso, fez uma foto do homem simpático escoltando a defunta e postou em seu perfil do Facebook. Várias pessoas curtiram e compartilharam. E até quem não sabia o que dizer, claro, comentou declarando que não sabia o que comentar.