domingo, 7 de outubro de 2012

Engolindo Caio.

 

   O desgosto que me dá a masturbação egocêntrica, a autoafirmação vaidosa, o compartilhamento travestido de boa-vontade para disfarçar a carência por atenção. A vontade de vomitar que me embrulha o estômago quando vejo as irrelevâncias da vida promovidas como se fizessem diferença nos rumos de quaisquer outras vidas. A cegueira coletiva que impossibilita enxergar o quanto somos dispensáveis e que não passamos de distração uns para os outros. É a literatura descontextualizada resumida a frases de autoajuda ridículas. É a preguiça de pensar. São os gatinhos que atacam minha asma. São discussões descabidas tentando converter opiniões inúteis, como são quase todos os juízos individuais. É o riso fácil por piadas-prontas e absurdamente previsíveis. É a celebração do coletivo como se o coletivo não fosse hipócrita o suficiente para dar a falsa impressão de que celebra a persona. É a disputa para ver quem grita mais alto que faz meus olhos quererem chorar lágrimas de sangue. É a falsa impressão de que o que se pensa merece, deve, precisa ser externalizado para fazer sentido. É a autopropaganda barata vendendo coisas sem valor. É o senso comum, a total falta de bom-senso, de senso estético, de senso do ridículo. É a privacidade publicada para agradar uma audiência imbecilizada e mimética. É a vontade de comentar “caguei” em tudo. É o programa de auditório de domingo colaborativo onde a plateia faz questão de participar com um sorriso na cara. Eu a escolhi porque eu acordei com muita dor de cabeça disso tudo e, para mim, o livro iria ficar bonito atravessado na garganta dela, que nem o Patolino naquele episódio do Pernalonga. Foi só por isso.

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