domingo, 1 de maio de 2011

Dialética.

    

     Não há como ultrapassar a barreira da superficialidade até que um dos lados tenha ousadia suficiente para ceder e se expor. Para isso, no entanto, é necessário um estímulo, um sinal da outra parte capaz de originar na primeira este interesse sincero em aprofundar o diálogo. Diferente daquelas pessoas, eu não possuo paciência tão pouco me divirto com conversas banais. Levo a sério minhas opiniões e formá-las me dá certo trabalho mental. Porém, pasmado com os absurdos que ouvia, não tive vontade ou encontrei motivos para me expressar, argumentar e me esforçar para ser compreendido. De fato, aquela gente parecia excessivamente preocupada em revelar suas próprias ideias e pouco disposta a ouvir a dos outros. Sem muitas opções e contrariado, dei atenção a eles.

      Após uma hora observando a interação entre os indivíduos, constatei que os assuntos variavam de forma caótica. Depois de quinze minutos, por exemplo, o assunto do momento não dizia o menor respeito ao de dez minutos atrás e eu me perguntava como eles haviam chegado aquele ponto. A conversa era baseada, principalmente, na troca de impressões, partilha de experiências pessoais e relatos da vida de terceiros que nem se encontrava ali. Os temas mudavam sem muita lógica. Aparentemente, ninguém estava interessado em nada em específico e a preocupação era tão-somente falar não importando sobre o quê. Pelo que percebi, as pessoas se divertiam mais tagarelando e tentando chamar atenção do que simplesmente ouvindo. Se ficassem a repetir “me olhem, me olhem, me olhem...” e conseguissem o efeito desejado, elas ficariam.

      Fato curioso era a prontidão com que os membros da mesa se dispunham a opinar independente de qual fosse o assunto levantado. Todos tinham algo a dizer e diziam como se aquilo fosse verdadeiramente relevante. Se o tópico fosse energia nuclear, por exemplo, as pessoas se afobavam para expressar o que pensavam a respeito. Reproduziam discursos prontos e simplórios com uma veemência desnecessária. Buscavam sempre dar a última palavra antes de partir para o assunto seguinte. Pareciam não perceber o quanto aquele debate ingênuo era, no fundo, deveras inútil. Esforçavam-se para defender suas falas como se fossem chefes de Estado regendo o mundo e precisassem conduzir a opinião pública a fim de fazê-la apoiar as manobras importantes que estavam fazendo. Era ridículo e eu fiquei entediado.

      Uma hora e meia depois, eu já estava profundamente estressado e constrangido com aquela gritaria. O álcool havia inflado ainda mais o ego e a vaidade deles. Há vinte minutos estavam fazendo fotos e posando com suas bebidas enquanto forçavam sorrisos com uma naturalidade que me enojava. Nunca entendi porque as pessoas precisam estar necessariamente sorrindo em fotografias. Vai ver é a necessidade de provar aos outros o quanto se estava feliz naquele momento. Não me importo com o que pensam os outros e não acho que felicidade tenha a ver com sorrisos cheios de dentes. Além do mais, aquilo era só euforia forçada e eu não fui contagiado por aquele espírito. Enfatizo isso não para me justificar, mas para atenuar minha culpa. Quando finalmente tomaram coragem para reclamar por eu estar muito calado, aproveitaram o ensejo para protestar juntos contra minha seriedade nas fotos. Levantei-me e pedi encarecidamente para que todos tomassem em seus respectivos cus. Voltei para casa e dormi em paz.

Um comentário:

Ana Paula disse...

toda uma vida nas palavras de tiago júlio (: