sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Mini-tragicomédia moderna.

 

Quarta-feira. Noite. Restaurante italiano. Mesas vazias. Dois caras de terno e gravata. Pratos de espaguete. Copos de Coca-cola. Garçons entediados observando o trânsito parado. Cheiro de vinho tinto. Novela na LCD. Dores de cabeça. Preocupações. Dois pontos.

_ Porra, cara, às vezes fica foda, né? Respira fundo.

_ Hã? Pensando em uma resposta.

_ Lá... Às vezes fica foda. Esperando o silêncio.

_ Às vezes fica, mas a gente é pago pra se ferrar também. Esboço de riso.

_ Preciso viajar, tirar umas férias. Desfaz a postura.

_ Isso todo mundo precisa... Mas sem grana não tem férias, é por isso que a gente se ferra. Gole de coca.

_ Se fode. Corrigindo.

_ É, a gente se fode... Corrigindo-se.

_ A gente se fode pra parar de se foder um poquinho? Segurando o riso.

_ Caralho... Não sabia que tu também é filósofo. Gargalhando tímido.

_ E eu não sabia que tu falava “caralho” e conjugava o verbo “foder”. Soltando o riso.

Conversas. Saídas. Revelação. Alegria. Três meses. Tiraram férias. Viajaram. Se foderam. Tudo ao mesmo tempo. Casaram na Argentina. Adotaram um vira-lata. Foram discriminados. Um se matou. O outro entrou em depressão e morreu. Ponto final.

Um comentário:

TIAGO JULIO MARTINS disse...

Que nem quando a gente tá com prisão de ventre: se eu parar de me cobrar tanto e relaxar mais, sai. :D