Quarta-feira. Noite. Restaurante italiano. Mesas vazias. Dois caras de terno e gravata. Pratos de espaguete. Copos de Coca-cola. Garçons entediados observando o trânsito parado. Cheiro de vinho tinto. Novela na LCD. Dores de cabeça. Preocupações. Dois pontos.
_ Porra, cara, às vezes fica foda, né? Respira fundo.
_ Hã? Pensando em uma resposta.
_ Lá... Às vezes fica foda. Esperando o silêncio.
_ Às vezes fica, mas a gente é pago pra se ferrar também. Esboço de riso.
_ Preciso viajar, tirar umas férias. Desfaz a postura.
_ Isso todo mundo precisa... Mas sem grana não tem férias, é por isso que a gente se ferra. Gole de coca.
_ Se fode. Corrigindo.
_ É, a gente se fode... Corrigindo-se.
_ A gente se fode pra parar de se foder um poquinho? Segurando o riso.
_ Caralho... Não sabia que tu também é filósofo. Gargalhando tímido.
_ E eu não sabia que tu falava “caralho” e conjugava o verbo “foder”. Soltando o riso.
Conversas. Saídas. Revelação. Alegria. Três meses. Tiraram férias. Viajaram. Se foderam. Tudo ao mesmo tempo. Casaram na Argentina. Adotaram um vira-lata. Foram discriminados. Um se matou. O outro entrou em depressão e morreu. Ponto final.
Um comentário:
Que nem quando a gente tá com prisão de ventre: se eu parar de me cobrar tanto e relaxar mais, sai. :D
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