Seguinte, rapaz, to escrevendo um livro. Só não sei se termino, né. Isso é pra ser uma continuação disso (clique aqui). Então, caso não tenho lido a primeira parte ainda e não queria ler, esse negócio aí embaixo não vai fazer muito sentido. Não vou postar os capítulos todos de uma vez porque ficou grande e eu sei que dá preguiça de ler em computador. Vou postar em partes, esporadicamente. Mas eu preciso da ajuda de vocês, tá? Por favor, comentem e digam o que acham. Isso é importante pra mim. Arte é comunicação, não autoafirmação. Em relação a essa história, isso faz mais diferença ainda. Eu vou me sentir mais seguro pra escrever e continuar. Então, quem ler até o final, faça uma boa ação e dê seu pitaco porque é grátis e faz bem pro o coração ajudar pessoas. haha. Ah! leiam o Égua, doido que tem coisa nova por lá também. Boa leitura. (nem sei o que isso significa direito, mas é uma expressão legal :).
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Ele agora sonha com ela. Sonha sem querer e acorda meio perturbado. Já se passaram duas semanas. Nada mudou de significativo na vida de nenhum dos dois. Ambos continuaram suas rotinas bestas e elas não se cruzaram em nenhum momento. Eles viraram uma curiosidade sadia, alegre, e um pouquinho frustrante por não poder ser saciada. Vou contar o que aconteceu porque eu sou um narrador bonzinho. Mentira, eu não sou, mas eu tenho que contar a história de forma que ela tenha alguma lógica. Que ninguém me cobre sentido: isso é com vocês. Enfim, foi assim: depois de entregar o papel umedecido de suor, ele correu. Correu sorrindo, desajeitado, louco e feliz. Correu como uma gazela assustada, a moça ficou olhando ele se afastar sem entender porra nenhuma. O rapaz chegou à parada ofegante e pegou o primeiro o ônibus que passou, depois colocou os fones de ouvido e voltou pra casa com o coração socando o peito e um sorriso idiota.
Tudo que ela lhe deu foi um olhar surpreso. “As sobrancelhas reprovaram tudo... Ela me achou ridículo... Foda-se... Mil vezes foda-se”, enquanto ele pensava nisso, os “fodasses” vibraram baixinho em palavras e a senhora que estava sentada do seu lado, que tinha lá seus sessenta anos, o olhou espantada. Ele a encarou sorrindo de volta e deu uma piscada. Então ela arregalou os olhos, se levantou e foi sentar na cadeira da frente. Ele ficou gargalhando e se divertindo sozinho. Pensou que faria mais sucesso se tivesse um papel, uma caneta e entregasse um bilhete à senhora dizendo que curte loucas-aventuras-sexuais-sadomasoquistas com mulheres grisalhas, enrugadas, com sobrepeso e que já entraram há tempos na menopausa. Alguns passageiros o olharam com pena e ele sentiu pena de volta por eles não estarem rindo.
Nenhum número de telefone, nenhum nome próprio, nenhuma arroba de nenhum email. Só as palavras injustificadas de um delírio bobo. Um querer tão sincero que ele não conseguiu querer em silêncio. Vocês já fizeram algo só pra não saber o que fazer depois? É como se embebedar: tu ficas eufórico e livre porque acaba desconcertado. Ele até pensou em ir até ela e roubar um beijo de língua, só pra levar uma tapa na cara e ficar gargalhando depois. Mas ela daria a tapa antes dele conseguir enfiar a língua nela e isso não seria muito elegante, da parte dos dois. Além do mais, ele não queria um beijo roubado, queria um beijo pedido. Por isso entregou a carta, pra ela se apaixonar por ele e sofrer desejando seus beijos. Porque ele se apaixonaria se alguém o entregasse algo daquele tipo. E, como ele se acha muito interessante, alguém igualmente muito interessante teria sentimentos semelhantes à paixão despertados. Ele se acha, né, vâmo combinar. Esse cara deve sentir mais prazer tentando beijar de língua os próprios cotovelos do que as bocas de quem não o ache, no mínimo, o máximo. Talvez seja por isso que ele não deixou nenhum contato, afinal: não suportaria a ideia de que alguém que ele superestimou tanto quanto aquela moça o desprezasse. Ele é prepotente: costuma relevar a opinião da maioria das pessoas, porque não leva a sério a maioria das pessoas. Ser ignorado por alguém pelo qual ele teve tanto e tão puro apreço, seria uma merda. Ele preferiu dar-se o benefício da dúvida. Beijar ela não era o mais importante, o importante era ela saber o que ele queria.
Centenas de hipóteses, conjecturas e suposições passaram pela sua cabeça de vento que teimou em ficar inventando coisas improváveis. Só houve ela durante umas horas, o resto do mundo foi reocupando seu espaço pouco a pouco. Depois de uns dias, ele começou a pensar nela como um brinquedo descartável: ele brincou sozinho só pra quebrá-lo. Contou a história orgulhoso pra seus amigos, mais do que acostumados com suas esquisitices, e as opiniões foram contraditórias: uns o acharam idiota, outros o acharam romântico, idealista, uns disseram que ele foi corajoso e outros o recriminaram por ter sido tão bunda mole. Todos riram e se divertiram muito. Ele se divertia contando e concluiu que, de um jeito torto, aquela moça o fez bem. Fez ele fazer poesia, ainda que feia. Ele já a reviveu narrando a mesma saga sentimental pra umas quinze pessoas diferentes. Sabia que contaria aquilo pra seus netos um dia e daria um conselho melodramático do tipo: “sempre sonhem porque é aí que tá a graça da vida”. E seus netos o achariam um velho esclerosado. Apesar de tudo, ele não ficou obcecado nela. Ela vem em sua cabeça de vez em quando, num daqueles pensamentos bobos que surpreendem a gente vindos de lugar nenhum. Ele pensa, sorri, se recrimina e depois fala baixinho que valeu a pena. Fez o que não precisava ser feito, fez porque quis e sentiu a alma leve depois. Há anos ele não corria. Ela foi um quadro que ele ousou tocar e depois fugiu pra não ser preso. A verdade é que ele foi frouxo e não teve coragem pra rabiscá-lo. Mas ele segue muito bem: até beijou de língua duas outras meninas depois do acontecido pra provar a si mesmo que moça com a camisa do Snoopy foi um jogo que ele jogou e abriu mão de saber o resultado. “A língua dela era só um músculo feio como qualquer outra língua. Além do mais, ela é bem mais encantadora desconhecida, parece perfeita”, falou à Beatriz. Nisso a gente tem que concordar com ele: tudo cabe na incerteza. E línguas são coisas estranhas.
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E aí, o que acharam, hein? Hein? Hein? Caso tenha gostado, espalha pra quem gosta de literatura e de coisas estranhas que tem um maluco escrevendo um livro em um blog e diz pra ler isso. Vou agradecer imensamente, e nem vai ser em silêncio. :D