segunda-feira, 28 de junho de 2010

Minha despaixão.

Uma das coisas mais legais que já escrevi. Aqui.

Aliás, peço que, por favor, pra quem segue o vago ou vem aqui atrás de coisas novas, também siga o Égua, Doido!

Vou tentar manter ele atualizado regularmente com textos mais claros, diretos, opinativos e bonitinhos.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Sobre Cus.

 

        “Há uma esperança sincera nos sorrisos que acabam em silêncios. Uma fuga sem jeito nas conversas sobre porra nenhuma. São pensamentos-tortos-não-compartilhados-por-medo. Uma alegria medíocre. Um espaço infinito entre corpos grudados. Um querer insaciável no presente. Uma espera inconsciente por um futuro impossível. Essa fidelidade limitadora. Umas verdades reconfortantemente forjadas. São gestos prontos, obrigações irrecusáveis. A constatação de que tu poderias ser qualquer outra. De que tudo independe de ti, até eu. São essas frases-feitas lindas que não dizem nada. É essa tua incompreensão comodista. Essa tua visão limitada que se recusa a olhar pra dentro, no escuro, no fundo, pra me encontrar lá: um cego rindo sozinho. Tu não consegues me enxergar e eu estou indo embora porque preciso enxergar coisas novas, antes que eu fure meus olhos com raiva por não me surpreenderem mais. Sou eu, tu sabes: é a minha solidão tão inviolável quanto teu cu e a súbita vontade de te mandar socar algo maior que ela nele

Com toda minha sinceridade e rancor,   ”

 

        Ele chorou muito antes de começar a escrever, ainda estava chorando quando enviou e só parou pouco depois do avião pousar. Mas ela chorou muito mais, até bem depois do avião dele pousar. Ambos sabiam que os dois choravam. Ele se sentiu egoísta, mas despertar a raiva e o desprezo dela pareceu ser a melhor solução de fazê-la superar. Não é do tipo que gosta de mau-caratismos. Gostava demais dela. E ela atrapalhava e limitava suas ambições fazendo-o se esquecer de si e do que buscava. Ele sabia que ela também entraria em depressão e isso o consolava. Sabia que ela não entenderia suas razões e que o acharia um covarde por fugir assim. A verdade, no entanto, é que ela sentiu até certa inveja da coragem dele.

        Ela achava sua vida patética, segredo só dela com ela mesma. Queria sair por aí conhecendo lugares, descobrindo pessoas e comprando tralhas. Lógico que ela já havia dito isso a ele, mas, no tom que contava, era como se fosse um plano para o futuro, uma vontade adiável. Ela tentava esconder dela mesma o quanto esse desejo era urgente, porque sabia que saciá-lo exigiria mais dela do que ela estava disposta a dar. Na maior parte do tempo, ela se distraia muito bem. Ele ajudava, claro. A ida dele era uma tentativa de ser mais feliz, ela entendeu e ficou puta por ele ter ido sem se explicar melhor. Ficou puta com ele por ser tão prepotente e com ela mesma por sentir falta dele e, ao mesmo tempo, por não ter escrito o bilhete que acabara de queimar.

       Na semana seguinte, refeita e decidida, fez questão de pedir ao seu amante que a comesse por trás. Ela chorou de novo, porque doeu no início. Sua memória, afinal, era tão comodista quanto sua autoconsciência e logo depois ela riu ao se lembrar que o final da carta dizia pra ela socar algo maior que o dele no cu, ou algo assim. O amante tinha ao menos uns três centímetros a mais. Depois, ela ficou satisfeita e depois agradeceu a ele em pensamento pela boa ideia. O amante era mais divertido e, como diversão distrai melhor, ela continuou se divertindo. Ele desistiu de buscar o que buscar e sua depressão era mais forte que tarjas-preta. Só compreendeu o que faltava quando descobriu estar com AIDS dois meses depois de comer, aos prantos, o cu de uma prostituta viciada: faltava aceitar que certas coisas devem continuar invioláveis se outras não estiverem bem protegidas.