sexta-feira, 23 de abril de 2010

 

      Seguinte, o último texto (o post grande sem título, não essa tuítada ridícula aí debaixo) tem uma carga foda. Acho que foi por causa do estado em que eu o escrevi. Imaginei que se tivesse falado aquelas coisas, naquele estado, ao invés de ter escrito, as palavras feririam muito mais. Gosto de escrever daquele jeito sincero: intuitivamente, sem respirar, deixando os períodos surgirem, permitindo que as frases se completem em si mesmas. É legal essas coisas que embriagam e desequilibram: a gente é muito certinho, muito  reprimido. Se a gente perde o controle sobre o que sente e só sentir e fazer, a gente é livre.

      Daí eu lembrei de um clip muito doido de uma banda canadense chamada Barzin. A menina do clip parece pra caralho com a menina do texto. Então, já que estava coçando minha bolsa escrotal essa semana e não parava de ouvir a Regina Spektor, resolvi aproveitar o clima melancólico provocado pelas chuvas daqui pra fazer um videozinho interpretando aquele texto. Filmei quase nada, só fiz juntar uns clips e videos que peguei  do São Youtube.

      Enfim, apesar dos meus conhecimentos de direção serem quase nulos, o roteiro ficou bacaninha e eu consegui editar colocando os efeitos pra criar as metáforas que eu imaginei. Mas a narração não ficou tão boa, porque eu sou um jumento (infelizmente, a comparação só diz respeito ao raciocínio lógico :( e gravei perto do microfone. De todo jeito, acho que o resultado tá até bonitinho. Se vocês assistirem num domingo de chuva faz mais efeito. Caso não estejam com saco nem espírito pra assistir nove minutos de imagens sombrias, façam pela Regina Spektor que gentilmente me concedeu a trilha sonora. Minha BFF ela.

      Enjoy:

 

 

Pra quem gostou, todas as músicas do video são do album Songs. Tu podes fazer o download aqui.

Espero que alguém tenha sentido algo além de tédio. Inté. ;)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Ei, cara, a gente só mata a solidão e se mostra de verdade se for corajoso o suficiente pra aceitar que poucas vezes vale a pena fazer isso.

domingo, 11 de abril de 2010

 

           Às vezes parece que só tem eu. Tu sabes como é. Tu olhaste em volta, estalaste a boca, respiraste fundo e percebeu que não tinha nada pra ver. Por isso te achei foda. Mas já está tão tarde e a noite é tão profunda. Só tem o piano nos meus ouvidos e o escuro. Só não sei o que é mais alto. Será que ainda tem alguma coisa lá fora? Já bebemos e dançamos e suamos tanto. Estás tão cansada. E eu procurando meu porre. Tu deve estar procurando motivos pra continuar procurando alguma coisa. Sei que estás com medo, mas é só porque é noite e estamos muito cansados dos outros e meio bêbados. Foda-se também. Amanhã o sol vai sair, parece. Ou vai chover o dia todo de novo. Tomara que chova. Também gosto de domingos de chuva. Aí a gente tem desculpa pra ficar triste: chuva e ressaca moral. Mas, sabe, teu vômito era bonito. Não o produto final, o ato. Tu, descabelada, indefesa, sem pudor, num banheiro imundo, botando pra fora tuas entranhas, te sujando de ti. Não sorri porque estava bêbado, não. Eu ri porque foi bonito. Tu te sentes meio vazia às vezes mesmo sem ter vomitado? Às vezes parece que só tem eu, sabe? Tipo, por dentro, entende? Tu lembras o que eu disse pra ti antes de tu vomitar? Eu disse que tu és bonita. A verdade é que tu és bonita só vomitando. Tu és normal demais quando não está vomitando. Será que tu gostas de piano, além de vomitar? Tu és culpada pelo meu vazio, me arrependi de ter te beijado vomitada. Teu gosto não é pior que o da cerveja, mas a cerveja não deixa a gente vazio. A culpa é do teu desespero, a culpa é tua. Não precisava de tudo aquilo, não, menina. Porra, é tão difícil pra ti te suportar? Quanto tu bebeste? Cara, é desperdício de grana comprar tanto álcool. Tu és doida pra rasgar dinheiro assim? Tu és doida de ti rasgar assim? Sei lá se tu vai acordar. Eu  já não tava bem, sabe, não precisava da tua merda. Aí quando tu abrir os olhos vai sentir tua cabeça latejando, e amanhã vai chover o dia todo, parece, daí tu sentirás frio e a tua cama macia com teu lençol, que deve ser amarelo ou branco com detalhes rosa, vai querer te matar. E a tua vida vai-se embora na tua preguiça e na tua fraqueza, porque tu vais estar de estômago vazio e agora tu já perdeste o café e o almoço e vai gritar com a tua mãe, talvez até mande ela tomar no cu que nem tu fizeste com aquela tua amiga que era meio idiota. E tu também não vai querer falar com aquela tua amiga que te ajudou, nem com aquela outra que tava meio puta pra caralho, porque tu vai querer ficar sozinha o dia todo na tua cama macia que não espera nada de ti além da tua presença. Tua solidão é como teu vômito: guardada, censurada, esperando pra te sujar toda, não dá pra prender quando vem. Até queria ir aí, se eu soubesse aonde é aí, mas tu me mandaria tomar no cu porque eu começaria a dizer coisas que te exigiriam pensar e a tua cabeça dói e tu não quer ver ninguém. Eu vou assistir um filme amanhã, eu acho, sei lá. Talvez não queira ver ninguém. Acho que iria querer te ver amanhã, não agora porque eu não saberia o que dizer e não quero te beijar porque tu tens gosto de vômito. Amanhã vai fazer sol e as pessoas vão viver a vida delas, parece. Tu vai rezar pra que nenhuma vida vá te procurar, e sabe deus se tu sabes rezar direitinho. Acho que tu vais pensar que eu sou um escroto ou algo do tipo. Mas pra ti pouco importa se eu sou escroto ou bêbado ou aproveitador ou se eu achei bonito teu vômito. Sei lá, depois de amanhã tua solidão vai se esconder. Tu vai te alimentar, talvez até sobreviva ou algo assim. Depois eu te vejo te por pra fora de novo. Às vezes chove o dia todo amanhã. De repente a gente abre os olhos e percebe que não tem nada dentro da gente e tem a impressão estranha de que ninguém pode colocar porra nenhuma pra preencher isso. Aí a gente bebe mais ou trabalha mais ou estuda mais ou assiste algo que a gente não consegue fazer ou conversa sobre o porre ou sobre um filme ou sobre a TV ou sobre qualquer coisa e espera outra noite pra vomitar mais... Parece que só tem tu aí... Pelo menos tu vomitas e gosta de te perder voluntariamente. Estás chovendo aqui, eu acho. Quando a gente abrir os olhos, a gente vai pensar puta que pariu e vai tentar fechá-los, mas aí a gente vai ver um ao outro no escuro e vamos ter vergonha. Porque eu disse que tu estavas sozinha e tu, bêbada, disse que sempre foi. E eu, porque achei que seria legal e não por estar bêbado, disse que eu não existia. Aquele beijo tinha gosto de vômito. Queria saber qual teu gosto agora. Tu deves ter gosto de morango nas manhãs chuvosas de domingo. Só porque eu me lembrei do Caio e achei legal dizer isso e tals. E eu sei lá se a Regina Spektor ou essa semiconsciência que não me deixa dizer tchau, ou se é o medo de ficar sozinho porque já está tarde e minha cabeça dói um pouco e parece que eu não vou lembrar muita coisa, sei lá por que. Medo de esquecer que não tem só tu, nem só eu. Arch your head, you think you are alive, but you are dead, you keep on driving in your car asleep, etc e tal.