quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Oi? (primeira e, talvez, última parte :)

 

       Do que é feito o amor? (ironia) Seria só uma invenção do capitalismo para que gastemos nosso dinheiro com presentes inúteis e idiotas? (/ironia) Ou ele vem da beleza que há na individualidade alheia? Ou talvez, à la louco do narciso, ele venha quando a gente reconhece o que o outro tem de nós? Ou, quem sabe, seja só uma ilusão criado pelo nosso intelecto inventador (que inventa dor... Que merda. Beijo pr’a galera que curte Teatro Mágico. HAHA) para tornar menos animal nosso instinto de procriação? Será só uma criação para disfarçar a carência causada pela nossa natureza que nos obriga o convívio social? Aliás, a mesma natureza que faz de nós, animais sociais, pertencentes à espécie Homo sapiens e providos de intelecto inventador, tão vulneráveis a qualquer estímulo sexual medíocre.

        É claro que se tu és um animal social, estás inserido na espécie Homo sapiens, pertences ao sexo masculino, és provido de intelecto inventador, está no auge da tua maturidade sexual e matando cachorro a grito (expressão que não faço a mínima ideia do que significa, estou com preguiça de procurar a origem e que só uso por ser simpática*), qualquer estímulo sexual medíocre, vindo de alguém aparentemente interessante, vem a ser assaz interessante.

         Ela tem cabelos castanhos. Os fios, lisos, são mais claros nas pontas caídas sobre os ombros nus e escurecem conforme se aproximam da raiz. As sobrancelhas são finas e modeladas. O nariz é bonito e contornado por sardas clarinhas. Ao menos de perfil é bonito. Há narizes bonitos de perfil e feios de frente, quando são menos narizes. As pupilas castanhas estão estáticas fixas num ponto longe, além da rua. Acho que os olhos olham para dentro. Ele também olha para dentro: da roupa. Vamos dar um desconto: ele ainda não a conhece tão bem quanto ela mesma. Portanto, qualquer tentativa de enxergar mais além seria vã, e só mostraria o que ele, em seu estado absorto de patetice, quisesse ver. Assim, nada mais prudente que evitar prejulgamentos parciais e se concentrar na superficialidade concreta e inofensiva das carnes. E que carnes, viu: são muito bem distribuídas, para resumir.

        Faltou descrever a boca. Grande responsável pelo estímulo sexual medíocre que deu origem às demais observações. É uma boca rosa e carnuda. Os lábios superiores são um pouco mais grossos que os inferiores. Eles parecem ter textura de veludo. Ela passou levemente a língua por eles para umedecê-los. Não diria que é uma boca grande. Eu diria que tem o tamanho exato para degustar um pênis de tamanho médio de tal forma que a ação seja prazerosa para ambas as partes. Certo: mais para uma que para outra, mas o mundo é injusto assim mesmo. Ok: eu nunca diria isso. Mas ele, com certeza, diria.

        A pele dela é branca como uma folha de papel. Como uma dessas em que, exatamente agora, nosso amigo gasta palavras. Frases que ele julga divertidas e criativas o suficiente para atrair e prender a atenção da moça até o ponto final, que deverá preceder um sorriso e a vontade de conhecê-lo. Isso, na cabeça doentia dele, se ela for mesmo interessante como parece. Porque, para nosso rapaz desmiolado, uma iniciativa tão sincera, original e bem elaborada despertaria, no mínimo, curiosidade em qualquer um com algum senso de humor e intimidade com as letras. Ou seja: ele acredita mesmo que a sorte lhe pôs na mesa da frente uma moça atraente, dona de uma boca sensual, com um bom discernimento, espírito crítico, senso de humor peculiar, gostos incomuns e pior: num dia em que ela esteja com as taxas hormonais na medida certa para lhe render paciência e boa-vontade para dar trela a desconhecidos estranhos que se acham espertinhos. É, coitadinho.

        Vale salientar, como já notaram os mais observadores, que nosso herói se acha inteligente. E isso, além de prepotente, dá brecha para conflitos existenciais angustiantes já que, inteligente como julga ser, sabe que não deve subestimar os outros e superestimar a si mesmo. Apesar disso, seus processos mentais costumam criar expectativas exageradas em cima dele e, em contrapartida, desmerecer o que se pode esperar da maioria. Daí, contrariado pela própria suposta inteligência, ele adota uma falsa modéstia que mais parece cinismo que humildade. Ele costuma ouvir elogios exaltando sua sensibilidade, sua capacidade de expressão, seu raciocínio rápido e sua capacidade de analisar as coisas: acabou se convencendo disso. Em compensação, só quem se lembra de elogiar sua exótica aparência são sua mãe e sua avó. Sim, coitadinho de novo. Aliás, convenhamos que duas não é um número razoável de opiniões para que alguém que se julga inteligente possa se convencer de qualquer coisa. Além do quê, são pessoas partidárias para as quais os galanteios ele está cagando e andando (*) [mãe, vó <3]. Vale salientar, como já notaram os mais observadores, que nosso herói é perigosamente neurótico.

        Mas voltemos à cena: a moça agora está entretida com dois canudos plásticos. Um azul e um amarelo. Ligou as quatro pontas, juntando um canudinho ao outro, e agora vira, torce, destorce, desvira e pressiona fazendo quadrados, triângulos e pentágonos tortos. Brinca, encara o brinquedo e ri. Parece uma lesa. Ela é estranha o suficiente para justificar a empolgação que cresce em nosso ingênuo amigo que a admira como um cãozinho esfomeado. É uma garota que tem lá seus dezoito, dezenove... Não mais que vinte e três. Isso de idade é algo difícil de deduzir precisamente quando as meninas ganham, enfim, aparência de mulher lá pelos quinze, dezesseis anos. Claro que elas vão adquirindo contornos mais maduros e ganhando expressões mais graves, coisas que o tempo e a vida nos obrigam a aceitar, mas elas conservam a aparência de fruta recentemente amadurecida até os vinte quatro, vinte e seis... Não mais que trinta: quando nós, frutas impotentes que somos, começamos a notar os sinais do apodrecimento e nos inquietamos com o que eles anunciam.

       Retornemos às coisas leves e felizes: nosso rapaz está alvoroçado com a possibilidade de fertilizar a moça com suas sementinhas. Evidente que ele, cínico como é, ignora o motivo óbvio e tenta se enganar repassando mentalmente as razões para estar ali escrevendo para uma desconhecida. Diz que está sinceramente encantado com o ar largado da menina, sua indiferença em relação ao que a cerca, sua despreocupação brincando e sorrindo para canudinhos, sua excentricidade que denota distúrbios psicológicos cativantes, sua blusa do Snoopy, sua solidão em meio às outras mesas, a ele, à rua, ao mundo, ao sol, às outras estrelas, ao interior dos canudos, aos participantes do big brother, a deus, aos grãos de areia... E, afinal, assume que a beleza provocante da moça foi fundamental para lhe prender a atenção sim, porém, garante que suas intenções para com ela vão muito além do simples desejo de acasalar: pequeno, por exemplo, perto da vontade de ir até a essência curiosa de alguém que ri para canudinhos plásticos.

        Papo furado escroto e melodramático. Os advogados podem protestar afirmando que estou sendo insensível e injusto, já que o moço parece mesmo estar interessado na alma e no que há além da pele da menina e que sua justificativa foi honesta e convincente. Mas eu posso lhes provar o contrário. Se quem estivesse sentado adiante dele fosse alguém do sexo masculino, ou alguma moça que não se encaixe em seus padrões e em sua escala de beleza, que vai desde “bonitinha” a “gata pra caralho”, não teria blusinha do Snoppy nem sorrisos idiotas para pedaços de plástico que o mantivesse trinta minutos escrevendo, rezando para ninguém, pedindo para que ela não se canse dos canudinhos e vá embora. Indo mais além, se no lugar da moça fosse um rapaz ou outra moça que não fosse atraente a ele, o mais provável é que ele já não estivesse mais ali: tal pessoa despertaria nele curiosidade, pena, indiferença, medo ou qualquer outro sentimento diferente do tesão que lhe faz ficar ali, gastando o punho. Escrevendo, claro.

        Contudo, assumo que estou sendo irresponsável pintando nosso herói como se ele fosse um tipo descontrolado chegado em travessuras sexuais, como um maníaco da tesourinha qualquer. Longe disso. Nem passa pela sua consciência o mais remoto desejo de copular loucamente com a moça, ainda. Em seu inconsciente, no entanto, ainda já deve ser agora. Por enquanto, ele está mesmo contente em só observar a ela e sua boca macia rindo. Suas ambições e vontades não passam da boca. No entanto, nós sabemos, nós, incluindo nosso amigo, quais sensações e anseios as bocas e suas habitantes línguas provocam em nós, vulneráveis a estímulos sexuais mais medíocres que beijos. E como uma boca com outra boca leva a uma coisa e uma coisa leva à outra e a outra à outra, o motivo maior que leva o rapaz a querer a boca desconhecida é a cobiça, ainda nem nascida, de possuir o resto. Sendo mais imparcial, admito que, muito provavelmente, ele não quer comer ela. Quer beijá-la, sim. É um carinha romântico. Espera, movido por uma esperança irracional, que, em longo prazo, se a aproximação funcionar e a moça confirmar tantas expectativas, contrariando todas as probabilidades, ele possa comer poemas e escrever ela assim, todos os dias. A verdade é que ele espera comer ela e escrever poemas assim, todos os dias. Porque ele não quer comer ela, mas vai querer: bocas são sacanas. E o que é mais legal: ele não vai conseguir e está prestes a ser desprezado de uma forma humilhante. Os argumentos acabaram e só sobrou ela. E, foda-se, eu vou entregar esta porra porque deu um puta trabalho escrever.

 

Continua (?)

Sério, eu comecei essa história num impulso louco, aí ela acabou se desenrolando na minha cabeça e ficou bem grande. Claro que eu preciso desenvolver as ideias e blá blá blá, mas eu sei como conduzir as coisas. Eu só não sei se vale a pena. Que cês acharam? Vale a pena continuar? É melhor eu me entregar à preguiça e deixar por isso mesmo? Quem vai ganhar o BBB? Ê, sacanagem. Eu sei que quem vai ganhar é o Dicesar. (:

Comentem aê, falem mal, digam se deram ao menos um sorriso de canto de boca, se tá bonitinho, se gostaram do personagem eticétera.

Inté.

Ah! Amor, sem paixão, se existe, é comodismo. ;)