quarta-feira, 27 de maio de 2009

Guloseima. :D

   Descobri que isso não tem razão nenhuma se não estiver aqui. Até tem uma razão, mas ela é idiota. Todo texto é idiota. Por falar nisso: aviso logo que não vai ter nada muito relevante, leia, porém, se tu achar um cocozão, não diz que não te avisei. Certas coisas nem eram pra ser de mais de uma pessoa. E a razão de eu dar isso a quem quiser ler definitivamente não é porque sou altruísta. Pelo contrário: acho que vocês, seja lá quantos vocês forem, só leem isso agora porque eu sou um filho-da-mãe egocêntrico. Pensa: o que essa droga tá acrescentando à tua vida? Porra nenhuma. Saber de mim não faz a mínima diferença a ninguém (sei de pouquíssimos alguéns).

   Não é que eu devesse escrever só pra mim. Eu li uma frase recentemente que foi atribuída ao Machado de Assis, (conheço quase nada de Machado e internet não é o troço mais confiável do mundo, então acreditem se quiser) dizia: "Ninguém escreve para si, a não ser que seja um monstro de orgulho. A gente escreve para ser amado, para atrair, para encantar." Traduzindo: escrevemos por vaidade. Tá. Eu tento metaforizar, intensificar os sentimentos, ficcionar depois de analisá-los, causar alguma perturbação por aí, mas eu não faço isso por mim. Essa estória de que escrever exorciza, sinceramente, não funciona comigo.

   Escrever até ajuda a organizar minhas ideias e tudo mais, mas eu já disse isso num post-antigo-ridículo-que-nem-esse: eu me compreendo. Não preciso inventar historinhas ou poetizar pra eu ter alguma revelação tipo: “Ó, estou angustiado por causa disso e porque sou assim, mas que bosta. Ah, mas eu não sabia disso. Que feliz.”. Ou seja, não me vale de quase nada. Às vezes é até ruim, cara, me sinto mal depois de escrever alguns textos. Escrevo impulsivamente, quando tô totalmente enjoado. Mas há vezes em que eu simplesmente enfio o dedo na garganta e me obrigo a colocar alguma coisa pra fora. De uma forma ou de outra, não é sacanagem oferecer teu vômito aos outros?

   Sei bem que há quem goste do que eu escrevo. Aliás, não sei se teria coragem, muito menos disposição ou vontade, pra continuar escrevendo e postando se não tivesse recebido metade dos comentários que já recebi. E, sério, preciso agradecer imensamente, quantas vezes eu poder, a vocês por isso. Me sinto alegre e menos egoísta sabendo que, ao menos, uma pessoa conseguiu sentir e foi desequilibrada por um texto. As coisas só se transformam se passarem pelo caos primeiro. A gente aprende as coisas na base do sefodendo mesmo. Eita, acabei de ter um insight (sempre quis falar isso): talvez seja por isso que eu me recuse a escrever assim, clara e babacamente, escrevendo com elementos abstratos e de forma mais subjetiva as interpretações são múltiplas e os significados são pessoais: logo, cada um “aprende” (‘capta’ é menos prepotente, né?), cada um capta, do seu jeito, algo. Não é o que eu quis dizer, é o que vocês entenderam. (profª de simiótica ia me love se lesse isso)

   Ai, ai… E a família, como vai? Pois é, rapaz. Não sei mais o que dizer. Acho até que não deveria ter dito nada. Sei que posso dizer o que eu quiser aqui, mas eu não sou tão estúpido a ponto de não pensar em quem se dá ao trabalho e dedica um pouco do seu tempo pra ler o que tá aqui com a maior boa-vontade do mundo. Bom, pelo menos serve pra mostrar que eu não sou nenhum depressivo-suicida ou coisa assim. Sei que uns textos tem uma carga bem pesada: é que eu sinto muito, sou um extremista sentimental. Hoje eu tô feliz, por isso tô falando merda, eu acho. Caralho, chega de falar de mim, tô com vergonha já. Tô com fome também. E com uma porrada de trabalho pra fazer. Como eu sou zombador, né? Guloseima é uma palavra mais engraçada que zombador… E é por isso que o título é guloseima, decidi agora. Porque a tristeza é bonitinha, mas a felicidade é doce! (HAHAHA… Doido, preciso tomar meu remédio controlado antes de vir aqui escrever)

e.u Eu pensando. 

(Ah! Não custa falar que o texto possui ironias, e essa esdrúxula legenda é uma delas)

*Querendo desperdiçar o tempo com mais porcaria, tem post novo no Égua, doido!.  Inté. :)

terça-feira, 19 de maio de 2009

À Fuga De Nada.

Vestiu uma jaqueta jeans surrada, calçou as chinelas, e desceu do sétimo andar apenas de camisola. Estava insone, entediada, cansada. Ela saiu porque a solidão estava atipicamente lhe sufocando. A noite era grande suficiente para velar as duas. Rua deserta, úmida, absorta num silêncio perturbador, numa meia-luz estranha, tinha também um frio áspero. As luzes dos postes, esparsamente dispostos, brilhavam com dificuldade. Ela achou tudo muito estranho, melancólico. O céu escondido por nuvens laranja prestes a chorar. Vultos de casarões antigos escoltavam a moça caminhando pelo meio da rua estreita.

Eram tão lentos os passos, a expressão tão natural e as horas tão altas. Se alguém a tivesse visto, juraria que era uma sonâmbula, ou uma bêbada, uma louca, um fantasma. Uma morta morando numa daquelas casas antigas, esquecidas por todos, lembradas só pelo tempo. A madrugada cuidava de embelezar o cenário, onírico. E eram tantas memórias, tanto tempo, tão vazio e tão só. Lindo. O perfume do sereno inebriando a garota sozinha que desfilava numa passarela de asfalto para prédios velhos. Era tão linda. Uma beleza tão extraordinária e surreal que se nada de incomum acontecesse não seria verdade.

Quando ele surgiu, corpo coberto por um sobretudo negro, era translúcido. Ela não se assustou. Como se fosse natural, como se esperasse, a moça parou e sorriu. O mundo era de dois corpos dentro da madrugada, no meio de uma rua deserta. Ficaram os dois se encarando, tentando identificar, se reconhecer, se matar. Ele sério, diáfano. Ela quase feliz, luzindo. Eu consigo escutar aquele silêncio agora. Tinha no ar aquela vibração que antecede algo grande, como o pressentimento que vem antes do acidente. E as gotinhas começaram a cair, finas, geladas. Ela inclinou o pescoço para trás e abriu a boca. Ele queria morrer por julgar não merecer tanta beleza, depois achou graça do que queria.

Barulho:

- Não gosto dessa tensão.

- Por quê?

- Não sei. Parece que vou sempre morrer no próximo segundo.

- Me sinto sozinha.

- Eu te conheço. Como tu te conheces. Não estás sozinha.

- Como pode?

- Sou tu.

- Eu te criei.

- Eu não existo.

- Eu te amo.

- Porque te convém.

- Não te conheço, amor.

Foi porque era o mais certo, no mínimo, o mais lógico. Ele sumiu. Ela voltou, chorou, dormiu e sonhou que era triste. Talvez não justifique uma queda assim, tão visivelmente forçada. Mas, agora, não encontro motivos mais válidos, nem mais convincentes. O absurdo motiva-se por si. E, no engano, nada houve. Nada há.


eu não sei.