quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Dia Em Que Nos Olharmos.

Ahn, sei que quem entra por aqui não espera ler isso... Mas nesses dias eu só tô conseguindo pensar e dar meu tempo à música. Acho que tenho outra paixão, afinal.
Tô com um monte de idéias na cabeça, o problema é que, diferente da escrita, essas eu não posso por pra fora sozinho.
O próximo post será um texto bem bonitinho, prometo.
Enfim, falem mal.




Eu quero ver o céu desabar
Sobre as nossas cabeças entupidas
E quando desistirmos da salvação
Veremos os segredos escondidos
Confinados pelo medo do tempo

Eu quero ver o oceano lavar
Nossa imundice tão humana
O estrago de ambições idiotas
Para dançarmos finalmente livres
Em cima do mundo revogando

Eu quero ver o vento varrer
Cada dejeto inorgânico
Nós sorriremos realizados
Vendo o que levantamos
Ser destruído e nunca mais desejado

Eu quero ver a terra se abrir
Sob os nossos pés descalços
Perdoaremos nossos pecados
Talvez nós demos as mãos
Para cairmos todos juntos extasiados

Eu quero ver nos olharmos em prantos
E nós nos benzeremos com lágrimas
Chorando pelo que fomos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Cândida Reza

Há um motivo pra essa baladinha piegas ter o mesmo título de um texto antigo.
É uma das coisas mais lindas que já escrevi.
Ao motivo.


Um corpo sem formas traçado sem riscos
Uma beleza concreta exprimida sem imagem
Que causa no meu peito sem ar a dor de um tiro

Meu desespero mede forças com minha vontade
Tua existência onipresente me servindo de abrigo
Eu estranho compreender o impossível

A leveza discreta de palavras mortas
Como a inexistência que me enlaça e me devora
Um pouco, tão pouco, que me esqueço de ter alívio

Tu és um sopro sem vento que me contenta
Como a luz da manhã de um domingo
Sob a qual eu navego a esmo num barco sem velas.

Meu espelho desfocado e invertido
Meus sinceros risos e segredos
Tu me acalentarás para sempre, pois existiu

Mesmo que eu suporte um eterno desencontro
Nasceu em mim uma certeza infantil
Que eu te devolverei quando matarmos o espaço.

E se tu não me bastas, se eu te temo e se eu não te tenho
Eu ainda assim me sinto feliz, porque eu te sinto.





Criei um profile no site Recanto Das Letras da UOL. Por mais que tudo que eu coloque aqui seja totalmente desprentesioso, achei melhor fazer isso pra garantir a autenticidade do que eu escrevo. Como lá tem Copyright, as coisas ficam mais seguras. Posto primeiro lá e depois aqui no vago.

Ah, grato pela atenção e comentários de novo.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Capítulo 1 - Parte 4 - Izabel

- Meu coração é um cubo mágico sem solução.
- Se é mágico, tem solução pra tudo.
- Não, se é mágico, ele sabe enganar bem.









- Não gosto de cobranças. Há motivos pra eu não querer estar contigo ou preferir estar com outros ao invés de ti, e nenhum deles é suficiente pra justificar qualquer desafeto. Pelo contrário, cara, eu te amo.

Eu escutava atônico enquanto ela mexia a boca, era como se tivesse subitamente aprendido japonês, estava querendo se exibir. Questões óbvias que contrariam a lógica de toda situação começavam me obrigar a fazer perguntas, tão idiotas, que eu me recusei a dirigi-las à Izabel. Ao invés disso, continuei olhando sua boca que agora tinha um sorrisinho sarcástico. Sinceramente, eu esperava que ela se apiedasse da minha queda e, mesmo que por caridade, voltasse a segurar minha mão para voarmos juntos e felizes. Eu sabia bem com quem e com o quê eu estava lidando, eu só me esqueci da preparação para isso.

- Tu entendes? Enjoa. Fica chato, óbvio. Preciso de surpresas, tu também. A gente já se descobriu e...

- Porra! Pára!

Parar... Eu sempre fui de adiar as coisas: a verdade ficando mais pesada, ganhando a carga do tempo, dói mais assim. Mas eu sei que se sentisse isso, que experimento agora, no início, eu não teria tido coragem para ir tão longe. Às vezes a gente precisa dar algo em troca para poder continuar tendo certas coisas, eu ofereci a mim mesmo auto-enganação para ficar com a Izabel. Agora ela vem assim, cínica e insensível, querendo tirar o que eu me dei com tanto esforço.

- Parar com o quê!? Tu me conheces, merda, não te faz de besta. Sabes que mediocridade não é comigo! E não falo isso pra te menosprezar não.

- Caralho! Acabas de dizer que ficar comigo é sinônimo de mediocridade! Ainda tem a cara-de-pau de dizer que não estás me menosprezando!?

Essa é a parte em que eu adquiro um comportamento agressivo e incoerente, assumindo uma postura infantil para me iludir mais alguns segundos ao invés de aceitar que não tenho capacidade para ter ela. É mais ou menos o que acontece quando algum parente próximo morre subitamente e lançamos pragas e protestos culpando deus quando já não há nada para fazer, já que ele não traz ninguém de volta. A diferença é que a Izabel é mais palpável e consegue ser mais cruel que deus.

- Pra quê isso tudo? Estás te fazendo de burro por quê? Acho que o mais que podemos ter é sempre melhor e mais significativo do que já temos, por muito que seja... Porra, é uma questão tão lógica e simples. Qual a dificuldade pra tu entenderes isso, Edu?

- Tu estás me anulando. Esse é o problema.

- Eu te amo, seu idiota.

- E isso não te basta?

- Claro que não! Amor, só esse amor, não é tudo. Não dá pra resumir todas as possibilidades que a vida oferece em uma só pessoa. Eu já te disse isso três vezes.

- Não posso aceitar isso.

- Não é questão de aceitar. É assim, eu sou assim e acho que todos nós somos assim... Não queres enxergar... Merda, tu nem fazes questão de me entender! Tudo isso por quê!? Por imaturidade, puritanismo e hipocrisia... Acabou, Edu.

Foi assim. Entre ‘’caralhos’’, ‘’porras’’, “merdas” e fodas extraconjugais. Ela acabou comigo. Eu fiquei estático contemplando aquele poço de arrogância e prepotência espalhando roupas pelo chão e socando nas malas. Aí ela quebrou o porta-retrato, rasgou a foto que tiramos na montanha-russa e me mandou ir embora.

Por algum motivo eu sorria. Então fico aqui, sentado nessa pseudo-cama de colchão escroto, para tentar me compreender e... Lembrar.

Lembrei... Lembrei que me encantei com o jeito expansivo, a postura subversiva e contestadora que faz eu me sentir na época da ditadura: uma advoga assumidamente vendida que condena as leis que aplica, eu me divirto com ela. Tem também as teorias mirabolantes, as indagações existencialistas, as filosofias de amor platônico, a crença em ideais utópicos, as auto-ironias e como ela acha tudo isso meio ridículo... Ela é complexa e anormal, e foi justamente isso que me atraiu. Lembro e rio.

Agora vou passar a noite e o dia seguinte mergulhado em recordações e, talvez, com um arrependimento absurdo. Capaz de eu perder o emprego, Izabel consome tempo. Foda-se.

A desgraçada acabou comigo e eu sorrio apaixonado.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Capítulo 1 - Parte 3 - Izabel

Agora eu gasto as horas do início da noite me sentindo um completo escroto.

Até a semana passada eu preenchia o intervalo entre as sete e as dez lendo. No fim do expediente, às seis e meia, tomava o café sem graça da garrafinha térmica esquecida ao lado da estante de livros infantis. Eu pegava algo interessante no almoxarifado e lia até ser surpreendido pelo desaparecimento das letras, as dez, quando o Luiz desliga as luzes dos corredores. Uma noite dessas, eu estava tão distraído com as memórias das putas do García Marquez que, quando a penumbra apareceu, eu continuei a leitura usando a iluminação do celular. O Luiz, a Rose e o Carlos pensaram que eu já tinha saído, fecharam a loja e eu fui obrigado a dormir na sessão de auto-ajuda, jogado em cima da poltrona desconfortável que nunca é agraciada pelas nádegas de nenhum cliente. Eu sonhei com anjos, acordei com torcicolo e com medo no outro dia. Isso, lógico, antes da Izabel.

Claro, a possibilidade ter centenas de livros ao meu alcance (e de graça, óbvio) foi o que mais pesou na hora de eu decidir que meu emprego fixo seria numa livraria. Além do quê, o trabalho é fácil e não sou pressionado. Basta um sorriso no rosto, um pouco de educação, atenção e interpretação que a pessoa sai feliz e satisfeita da loja, carregando algo que vai ler e depois, de tudo que leu, só lembrará o título e fará um resumo porco a quem perguntar sobre o livro. O Carlos disse que sou um bom vendedor e, se eu continuar assim, eu posso até ser promovido a supervisor em uns meses: ele falou isso de um jeito tão pomposo, com um sorriso tão grande e transpassando tanto estímulo... Era como se soubesse que desde menino já fantasiava com isso, meu maior e único e sonho, minha realização profissional, a chave que abriria a porta do quarto onde está trancada minha felicidade gigantesca: eu me tornar um admirável e todo-poderoso Supervisor de alguma porra. Eu terei até um crachá?

Merda. Eu encaro o livro, corro os olhos pelas letras, junto dois períodos e perco a linha da narrativa. Melhor seria ler uma coleção de poemas de amor. Aí sim, eu justificaria a pieguice com mais pieguice... Eu enrolo falando de mim porque sou egocêntrico, e, agora, eu sou a única coisa maior que a Izabel. Até agora. As palavras da Izabel, os risos, os trejeitos, o olhar, os sons... Fico repassando tudo, como se não houvesse mais nada para pensar que não seja ela.

Jovem advogada bem sucedida; mora sozinha num apartamento duplex (próximo à livraria, aliás); acredita em E.T’s; não acredita em deus; sonha em dar a volta ao mundo; tem medo de grilos; não tem medo de baratas; conta ter visto o papai Noel voando em seu trenó; gosta de vermelho-puta (tom que ela mesma inventou); gosta de vestidos floridos, por ser muito irônico usá-los; tem um sexy ar de drogada; disfarça brilhantemente sarcasmo com simpatia; é encantada pelo cheiro de jasmim; gosta de soverte de cupuaçu; odeia ter que acordar cedo; odeia ter que dormir cedo; odeia abacate; odeia salto alto; odeia a dona Joana; odeia carne de porco; odeia pessoas efusivas; odeia não poder beber a hora que quiser; odeia lugares lotados; odeia gente vazia; odeia discussões estúpidas; aleijou um gato quando era criança porque ele arranhou sua bochecha (justifica-se dizendo que não queria nada mais que assustá-lo); quebrou o dedo de um ex-namorado porque ele lhe apontou o dedo e ela estava porre (acha justificável); acha casamento coisa brega; acha filhos perda de tempo; acha os pais obsoletos; acha que a humanidade está condenada a pagar por todos os seus erros e que, no máximo, em um século a vida será extinta por catástrofes naturais e só sobreviverão as baratas; me acha jeitosinho; não se importa muito com o futuro da raça humana; se importa um pouco comigo; precisa trocar a fechadura da porta do banheiro de visitas; não aceitou minha ajuda quando me ofereci para trocar a fechadura da porta do banheiro de visitas, assegurando ainda, que não precisa de mim; perdeu a virgindade com treze anos; diz ser sensível e passional (nisso eu não acredito); já se relacionou com um cliente que era réu confesso; já se relacionou com a melhor amiga; fala que eu sou estranho; se considera estranha; não sabe nadar; desaprendeu a andar de bicicleta; queria morrer afogada, só pra ver como é; já levou um tiro no braço porque se recusou a dar o relógio de ouro ao assaltante; prometeu morte ao assaltante que lhe deu um tiro no braço e depois o perdoou, quando soube que ele foi assassinado; afirma já ter provado todos os destilados existentes (nisso eu acredito); guarda garrafas de absinto com teor alcoólico de 74% na dispensa (ela diz que são ilegais); encomendou três garrafas de arake à prima que foi a São Paulo; jura que vai parar de beber, pois a bebida está deixando sua pele horrível; já caiu em coma alcoólico duas vezes e meia; compra pipoca apenas para alimentar os pombos; não gosta de pombos; diverte-se com o jeito dos pombos se mexerem; queria ter um pombo de estimação; tem um vibrador de estimação; adora se olhar no espelho nua; tem o ego maior do que ela; é meio psicótica; é totalmente neurótica; confessa ter características típicas de psicopatas; pensa que a maioria das pessoas não passam de um bom passatempo; me elogia dizendo que eu sou um passatempo interessante; venera o Saramago; ama o Chico; curte dançar rock; ainda sabe tocar um pouco de piano; quebrou o seu piano; paga as contas em dia (menos o condomínio, de propósito, apenas para chatear a síndica-idiota); não se incomoda em ter somente três amigos; é a favor da reforma agrária, da igualdade sexual, da legalização aborto e do sexo casual; me dá medo; me provoca calafrios; me surpreende a cada fala; faz eu me sentir feliz por estar vivo; faz eu sentir vergonha de mim mesmo; instalou-se na minha cabeça e vaga feito fantasma, mesmo nos pensamentos que não são dela... Não eram.

A Izabel é uma droga. Como as drogas, ela resume minha existência a si. Ela faz inconscientemente, eu, mesmo consciente, não consigo escapar... Sabe, as drogas também matam, e eu decidi que não quero morrer ainda. Tenho razões magníficas para gostar da Izabel, mas as razões para deixar de gostar dela são melhores. Sou racional demais para ser um simples amigo de uma Izabel.

Não. Tenho que concordar: deixar de gostar é meio difícil... Vou dividir o que eu sinto pela Izabel. É! Vou fatiar o sentimento. Meu coração é uma pizza que será divido por oito ou mais mulheres. É, é assim que vai ser... É assim que era antes. Quem sabe não recupero minha individualidade? Paradoxal, mas foda-se. Argh. Acabou.

Merda... Seis paradas... Quero apagar... Não, quero a Izabel.

- Boa noite. Novecentos e dois. Diga que é o Eduardo.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Ponto e vírgula parêntese.

De Artifício, entre uma estrela azul e um círculo verde.

Ao lado, os familiares próximos juntavam-se aos familiares longínquos que se misturavam ainda com aqueles desconhecidos que eu tenho o direito de desconhecer. Superaglomerados humanos nunca me agradaram, para mim, parece sempre uma micareta disfarçada de qualquer outra coisa. Mas eis que o calor humano e aquele clima de confraternização (onde saudamos recém-conhecidos com todo o entusiasmo do mundo), talvez amplificado pelas centenas de pessoas ou, quem sabe, aproveitando-se da minha sensibilidade aguçada, me fizeram sentir arrepios na espinha. Dirijo, então, meus olhos para o céu quando os primeiros estrondos começam e as últimas pessoas terminam de me dar as mais sinceras felicitações e comprimentos.

Vermelho, riscos, azuis, bolas, alaranjados, anéis desfazendo-se, amarelos, arcos, cinzas... É, se superaram esse ano... Os olhos! Quero ver se enxergo nos olhos alheios a mesma sensação boa daqui de dentro. Nesse momento, passa pela minha bêbada cabeça a idéia mais extraordinária, brilhante e inteligentíssima que eu já tive desde o ano passado: subir num banco.

Tenho altura mediana, nada me impediria de olhar para os lados e enxergar perfeitamente uma dúzia de rostos encantados. Mas, para não me contrariar, decidi procurar um banco onde haja, ao menos, um lugar para a ponta dos meus sapatos. Ficando uns trinta centímetros mais alto, meu campo de visão aumentará muitos metros, pensei sabiamente eu... Não, essa não é uma daquelas histórias tragicômicas que precisamos contar para o máximo de gente possível, numa tentativa desesperada de nos livrar da vergonha que sentimos de nós mesmo. Sinto decepcioná-los: eu não caí nem na frente, tão pouco em cima, da multidão de pessoas que me cercava.

Era uma praça, então eu me afastei em direção às extremidades procurando os bancos de madeira que, provavelmente, teriam mais espaços que os centrais (onde a concentração humana era maior e as árvores enormes não bloqueavam a vista).

Roubaram minha idéia. Alguém muito bonita roubou minha idéia.

Cinco metros me separavam do banco. Do vestido branco contra o vento moldando um corpo magro, lindo. Dos cabelos ruivos dançando. Dos olhos.

...

A seguir um diálogo torto, meio desfalcado, que resultou em beijos e num sonho:

- Roubaste minha idéia, hein.
Falei nervoso e meio sem jeito.

- O quê!?
Disse ela espantada, talvez pensando que eu fosse assaltá-la. Eu pensava na sua boca.

Silêncio.

- Subir no banco pra ver as pessoas, idéia minha.
Tentei me justificar, já arrependido de ter iniciado aquilo.

- Bonito, né?
Os olhos dela brilhavam. Mas ela olhava para os meus olhos, não para as pessoas.

- Não sei, eu tô aqui embaixo.
Falei soltando um riso estúpido.

- Ué, sobe aí!
Sorriso enorme, um passo para o lado, mão estendida.

Pirotecnia.

À tarde, eu sonhei que encontrava uma cidade perdida. De longe eu só conseguia ver uma grande muralha, na verdade, acho que era uma fortaleza. Ela ficava à beira mar, numa praia deserta. Tinha água escorrendo: fios de água passavam por debaixo do muro, depois se ligavam e formavam uma pequena lagoa em frente à fortaleza. Da lagoa, a água seguia num riozinho para o mar, bem próximo dali. O céu estava um pouco nublado e a água azul brilhava muito forte. Um narrador invisível me disse, por algum motivo, que a água era fria e que eu aproveitasse. Quando me aproximei da entrada, enxerguei apenas pedras gigantes dispostas aleatoriamente no interior: como estátuas da ilha de Páscoa, porém, sem forma. Naquele grande labirinto surreal, corria nua sobre a areia branca uma moça ruiva, rindo sozinha. Eu corria atrás dela. Eu a alcançava.

...

- Alô.

- Ôôiiê... Ponto e vírgula parêntese...

- Hã!?

- Rararará!

- Rararará!




Muito feliz ano novo. Que os sonhos de todos se realizem eticéteras, eticéteras, eticéteras. ;)