terça-feira, 28 de outubro de 2008

Outra Vez: Eu Não Sei.

Devo ter me esvaído mais do que eu poderia para continuar deixando rastros. Para eu não perder o caminho de volta quando eu me arrepender do antigo... Labirinto por onde segui: por impulso, diversão ou qualquer outra justificativa mais nobre e tão estúpida quanto a covardia. Devo ter me lançando tão fundo, tão fundo, tão fundo que chegado no final eu descubro que o intervalo entre a queda e o chão é só mais um lapso temporal como fechar os olhos e depois abri-los: um segundo, oito horas ou nunca mais.

Provavelmente não estás entendendo coisa alguma, ou pensa estar entendendo qualquer coisa, acho que me contrariaste e está tentando descobrir o que eu quis dizer com o que eu disse ou digo ou deixei de dizer ou desisti ou nem pensei. Deixa eu te contar um segredo: também não sei, completamente, o que as palavras querem dizer. Elas me chegam e eu combino da maneira mais lógica e racional que a minha modesta noção de ordem me permite, e, ainda assim, não vejo o nexo muito explícito: o que não é muito natural para alguém que quer dizer algo através disso. Talvez eu não queira dizer nada, enfim.

Não, não é assim: eu sei o que eu quero fazer, mas quando estou fabricando tudo ganha uma dimensão tão grande que eu perco o controle da produção. Não era para isso estar aqui, nem aí. Avaliando as letras e as entrelinhas eu vejo quatro possibilidades, duas são as maiores probabilidades, as outras duas são as menos óbvias, logo, as mais interessantes: nenhuma certeza ou verdade, nem inventadas, nem provadas, nem usadas. Figuras de linguagem são abstratas demais, eu pinto um quadro surreal-existencialista e me deixou ser engolido por ele. Essa história de não haver verdade é bem interessante, porque se não há verdade isso nem real é. Ou é real demais.

Talvez seja apenas uma necessidade primitiva, inconsciente e infantil: desmontar as coisas e analisar o sistema para ver como funciona. É mais fácil quando as peças estão dentro, quando estão paradas ou quase sem força: girando lentas e enferrujando, a última parte da engrenagem já nem recebe força suficiente para servir ao resto. É, ainda sou eu, enfim... Tava precisando relembrar disso.

Na falta de estímulos ou disposição para ser, encontro ânimo nesses gritos mudos sabendo que há uns surdos que ignoram os avisos para seguir do jeito mais fácil e encontram semelhança onde eu só vejo complexos e confusões que, apesar de serem nonsense, me instigam pela anormalidade.

Eu gosto do que eu não sei.





Acho que estava precisando de mais dias, viver mais... Ou menos... Ah, tanto faz, não vou começar outro agora.
Só queria agradecer, mais uma vez, a quem lê e agradecer mais ainda a quem comenta.
Também quero pedir imensas desculpas pelo desleixo e minha total falta de educação em não retribuir os comentários ou a atenção. Mas eu realmente acho muita falta de consideração com quem escreve ler de qualquer jeito só para comentar sem estar com "espírito" para absorver as nuances dos textos. Nem livros conseguia ler, tava ficando preocupado.
Enfim, quero dizer que vou voltar a retribuir as visitas e tentarei fazer com que o próximo mês tenha 7 dias.
Até.

(Visceral: http://averdadeinventada.blogspot.com/2008/10/sobre-o-oculto.html)

domingo, 19 de outubro de 2008

A Estrada Só De Ida Para A Metafísica Surreal.

Ela recusou-se a abrir mão dos sonhos de infância
Desde menina era curiosa e destemida
Passou a cultivar piedade, caridade e desconfiança
Por todos que não conheciam o sabor
De entrar na realidade a ponto de perder
A noção de onde começa e termina uma cor
E depois voar como se não fosse feita de átomos.

Ninguém entendia a menina rindo sozinha
Ria porque não sabia o que via
O primeiro caleidoscópio
Foi presente do melhor amigo
Luzes multicoloridas e texturas dissolvidas
Brincando com princesas prostitutas,
Fadas assassinas e centauros suicidas

Ela mergulhava num mar denso de alegrias
Visitou Atlântida com os seus pulmões e bolsos apertados
Comprou a amizade de sereias cretinas e tritões tarados
Mas aí o ar e a grana acabaram
E ela desaprendeu a andar e voar e nadar
Enquanto os outros lutavam para salvá-la
Ela só queria se afogar

Então ela ultrapassou suas fronteiras mais remotas
E lá se foram os ares, os chãos, os tempos e as vidas
Agora ela desliza entre notas distendidas
Dançando lépida ao som de melodias esquisitas
Lá onde moram os deuses esquecidos e os bons espíritos
Olhando por àqueles que suportam com coragem a realidade.









É, é uma música.
Não iria postar isso, mas, talvez, ainda haja quem entre aqui esperando ler coisas novas.
De uns tempos pra cá alguma coisa desbloqueou na minha cabeça (ou alguma entidade baixou em mim) e aprendi a trabalhar melhor com versos e rimas.
Já compus treze músicas, quem sabe gravo e coloco aqui um dia. Só preciso encontrar um baixista, um guitarrista, um tecladista e um bateirista que estejam dispostos a fazer um som experimental, tipo bossa nova psicodélica ou coisa do tipo. Facílimo.
Interessados favor enviar currículos. ;)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Distante de mim.

Diante de mim, as velhas opções perfiladas da mesma forma esperando as mesmas escolhas. Escolher tornara-se automático, um hábito casual e óbvio: exatamente o que eu sempre repudiei. Mas seguir por caminhos parecidos nos causa a impressão de que desemborcaremos vezes seguidas no mesmo final, e do fim, fazer um novo início e andar em círculos novamente, até nosso senso de direção nos cegar temporariamente e fazer da repetição, através da irracionalidade, o inédito.

É exatamente nessa desconexão de sentidos que mora a insegurança e a longitude. Deparo-me com a incompreensão e danço sem jeito uma valsinha triste que entra ferindo meus ouvidos e embriaga até me levar a um mundinho distante e incoerente. E quando consigo recuperar meus sentidos, descubro que nenhum deles me vale de nada e, outra vez, me vejo perdido e incapacitado de perceber o que me cerca e o que me faz.

Das outras vezes era quase voluntário, eu era mesmo inconseqüente e mentiroso. E as minhas mentiras valiam unicamente a mim, porque só eu entendo onde está guardado o poder sutil das minhas mentiras, e só eu sei usá-las, só eu sabia. Porém, minhas anestesias baratas não me fazem mais efeito, meu organismo acostumou-se às toxinas e aprendeu a combatê-las: combater a si mesmo é uma guerra perdida. É paradoxal, mas nós ganhamos raramente, saímos na maioria das vezes com uma parte amputada, coração remontado com pedacinhos a menos.

Agora as coisas parecem tão nítidas que me desesperam. Consigo ver a proporção do que está me acontecendo e diante desse medo, das coincidências ingratas e da merda das barreiras, quase instransponíveis, eu só consigo me manter estático: porque eu temo o que eu esperei e não alcanço, e é aflitivo e frustrante tocar palavras.

O segredo da felicidade, esse ideal latente e constante, é palpar e escolher querer, com a intensidade necessária para ser feliz, uma daquelas óbvias opções pré-dispostas e disponíveis. O mal é que somos incuráveis, e, talvez, quando estivermos sucumbido completamente a nossa doença, encontraremos nossa felicidade escondida na loucura necessária para sermos insanos, guardados um no outro.