quinta-feira, 27 de março de 2008

Sob o Tédio.

A essência, o que é só, que é o que és, é quase tão vazia quanto o tempo que passa arrastado. Carregando ânimos, certezas, esperanças, vontades, sentidos, carregando o ser.
O tédio, o tédio não é não ter nada pra fazer, ou ter milhares de coisa pra fazer e não fazer nenhuma delas. É bem mais complexo e sufocante. É um estado de espírito, uma angústia relapsa, falta profunda, um vazio que forma de maneira única: pois são feitas de nada, as bases que sustentam o que camuflamos e disfarçamos com o esquecimento do que somos, uma indiferença profunda. Não pela falta de ação, mas pelos pensamentos que desenterram a nossa primeira camada, uma lembrança quase amarga. A ausência e a falta mais profunda que temos, de não sentir.

Só resta ser, e só um ser, um ser sendo só, é pouca coisa mais que uma ausência.

terça-feira, 18 de março de 2008

Queria que fossem minhas, as lembranças da lembrança de Ísis.

Doce e esperançosa imagem em forma de palavras. Palavras que precisava ouvir e não sei o que querem dizer.
Precisava de palavras que não sei o que querem dizer. Precisava não saber o que dizer, precisava me lembrar das palavras quase mortas em mim. Palavras que não tinha como dizer, e nem sei se as disse.
Novas palavras em forma... aquela forma -ah, aquela forma...- a forma que me enlevou, e me fez lembrar quando esquecia das velhas palavras que fazem parte de mim. Aquelas velhas palavras que consegui esquecer enquanto ouvia as novas palavras que não sei o que querem dizer, na forma que não consigo esquecer.
Na forma que não consigo esquecer. E não demorará para lembrá-la quando esquecer de mim: quando estático, vulnerável e morto, lembrar da forma muda. Forma muda, me lembrando das novas palavras que não sei o que querem dizer, que não quero esquecer.
As novas velhas palavras que dizem o que quero ouvir, e me lembram o que queria dizer.
Lembram-me o que quero dizer. O que queria dizer não podia, havia esquecido. Lembro-me muito agora, não completamente. Estão renascendo aos poucos, na forma que não sei como dizer.
Na forma que não sei como dizer, lembrei palavras que não podia esquecer. Aquelas velhas palavras renascidas que fazem parte de mim. A nova velha forma de dizer o que não sei como dizer.
Espera. Estava quase esquecendo.
A espera de ouvir as novas palavras que estavam quase mortas, pois quase morta era a minha espera. Como é grande o vazio que deixa a ausência dessa velha, e mais, muito mais nova palavra.
Muito mais nova é a forma. A forma... Não sei como descrever a forma sem dizer o que não quero dizer. O que não quero esquecer.
A forma que disse e eu espero – eu espero, e é isso, só isso que espero – que diga novas palavras que desconheço. Pois desconheço.
Pois desconheço. Mas lembro.
Doce forma que me ensina palavras. Mágicas palavras que me fazem lembrar que espero.
Eu espero. Só aquilo eu espero.
Só, aquilo eu espero.
Quão irreais são as novas palavras que aprendo na forma.
Ah, a forma...
Como queria poder o que não posso dizer, como quero.
Como a forma quererá...
A forma não lembra.
Havia esquecido, graças à lembrança das novas palavras, que a forma não lembra.
Lembro agora de palavras que não queria lembrar. Aquelas velhas, e só velhas, palavras condenadas a mim, e eu a elas.
E eu a elas. Queria esquecê-las.
Preciso que a nova forma – ah, como é doce a nova forma- lembres se das velhas novas palavras que fazem parte de mim.
De mim, queria lembrá-la.
Sinto. Sinto a velha nova forma que tenho de sentir as formas.
Que tenho de sentir a forma... Como é linda e afável e emblemática e ilusória e intrigante e envolvente e terna e perspicaz e sinuosa e grandiosa e mágica e sutil e linda, e linda de novo, e mais tanto. Tantas palavras... E aquela velha palavra que desconfio não fazer parte de mim.
Não consegui, não resisti, cedi à minhas novas palavras. Cedi a minha nova forma.
Cedi, minha nova forma. Não deveria descrever a forma, não é minha, mas eu não quero...
Eu quero.
Ah, como eu queria...
Como eu queria fazer parte da nova forma. Como eu queria ensiná-la minhas velhas palavras e mostrá-la minhas novas. E mostrá-la que sei dizer o que não sei como dizer.
E mostrá-la, com minhas palavras que parecem ser velhas demais pra fazer parte de formas.
Minhas palavras. Fora de hora, fora das horas.
Velho relógio em forma de coração com ponteiros desgovernados.
Nova forma de dizer o que as forma me fazem dizer.
Mas como é perfeita – como é linda... – a nova forma que não quero esquecer. E me faz lembrar das novas, e nada mais que novas, palavras que aprendi a dizer.
Palavras que aprendi a dizer.
E talvez eu diga, eu diga que não são minhas.
São da nova forma. São do presente, que espero: é só isso que espero, ser minha.

sexta-feira, 14 de março de 2008

De mim para eu.

_ Escuro aqui dentro.

_ Te acostumaras. A escuridão é ínfima.

_ Para mim não. Lugares estranhos não me agradam. Sei que são caminhos que levam a destinos inóspitos.

_ Não sabe aonde chegará, como sabe que é inóspito? E não será a luz, que nascerá esporadicamente até a escuridão tornar-se sombras sólidas, e nada mais que sombras sólidas, que fará o ambiente ser menos estranho, talvez o contrário.

_ Já estive em lugares parecidos. E é sempre, sempre é confuso, me perco, não sei o que minhas mãos tocam, nem onde pisam meus pés, aliás, nem tenho certeza se pisam. Sinto-me levitando, solto feito fumaça. Como fumaça espalhando-se até ocupar todo ambiente, confundo-me com ele, me confundo com a escuridão. Confusões não me agradam também, me fazem mal.
Já andei por caminhos parecidos, sei aonde levam. E o que fará do caminho menos estranho?

_ Sabe? Pois me conte, eu não sei. Pensei que fosse inteligente o suficiente para saber que não sabe. Precisa conhecê-lo.

_ Cheguei a vales desertos, e fiquei sozinho... Não! Lembro-me agora. Estavas comigo. Sim, estavas, sempre esteve.

_ Exatamente. Não conheces.

_ Conheço! Fiz parte dele!

_ Eu sei. Sou o escuro. Não conheces.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Lembrei.

A delicada e frágil linha que me separava do inseparável, do meu pior inimigo. Meu medo, medo do que não sei, do que acho que sei, de minhas incertezas fundadas nas verdades que escolhi acreditar.
Objetivo, o objeto sem forma, o incalculável, o que razão ou lógica nenhuma explica. O que, nem em minha insanidade cheia de ilusões e respostas inventadas, consigo compreender. Está no fim do caminho sinuoso e complicado no qual me lancei, e me perdi. E o que quero está longe demais, tão longe que nem posso ver. Se não vejo, como posso ter certeza que está, esteve ou estará lá?
Eu me perdi, a linha se partiu, eu me parti, e as certezas... As meias verdades...
Solúveis, desfizeram-se. Uma poça disforme com substâncias ácidas desconhecidas. Uma poça que corroí deixando no espaço um sentimento novo, misto de consternação, amargura, melancólica, dor, impaciência, languidez e... Vazio, lembrei.
Lembrei. E pro meu desgosto, não estou mais conseguindo esquecê-lo.
Não dá pra esquecer o que é, ainda mais quando o que é, é o que se sente. E mais ainda com a falta do que se sente, que não sente.

Antes era um mar de esperanças infundadas, agora é só uma poça.

sábado, 8 de março de 2008

Feto.

O nexo do que nem sei se existe, o sentido da inexistência. É aquela velha, bem velha explicação que devo a mim. Já faz uns tempos que estou em débito.
Compreendo. Dessa vez, e é uma rara exceção, uso o ninguém. Porque ninguém além de mim sabe como ele se sente. Sem saber se acredita, espera, renuncia, desabona, luta, corre, dorme, pensa, procura ou deslembra. Não exijo que saiba. Dilacerante aguardar o que não tem tempo pra chegar, se é que está vindo. Pode ter chegado e partido, e se partiu. Mas se partiu...
Vagando pelo caminho, nem nasceu e já está perdido. O plano inacabado desmoronando. Destroços caindo rasgando o espaço, o ar não oferece resistência. Espatifam-se, o que está embaixo é fraco demais pra amortecê-los. Esmagam.
Não me surpreende. Os destroços são pingos de uma nuvem estranha. Densa demais, cinza, carregada, intensa, uma tempestade solitária a mercê do vento. Dilúvio de raios sem trovões.

Mas ele nascerá. Será puro, real, intenso, verdadeiro, incompreensível, pulsante, transformador, infinito. Será tanto, que será tudo mesmo que depois morra e vire nada, se é que ele morre. Um sol que acalentará a nuvem, e irradiará vida. Mais que isso, fará vida. E será um bom tempo, e as horas não existiram mais.
Horas não servem pra muita coisa mesmo. Medir pontos, ver por olhos, sentir o que não se sente. Não, não funciona assim. Precisa delas, mas quando ele nascer não precisará mais. Maior que as horas, não será preciso medir o tempo. Morrerá.
Funcionará. Quando nascer e for maior que tudo.
Funcionará...

terça-feira, 4 de março de 2008

Variação.

Ou mudança, ou transformação. Não faz diferença. Já fez, fará, não agora. O agora que deveria durar pouco, está arrastado. O problema é meu relógio, precisa de uns ajustes, não marca a hora do pouco, aliás, não marca muitas, muitas horas. O admiro.

Sei que não é permanente, tempo desvirtua tudo, e é tudo mesmo, até a eternidade. Tempo, experimentado, tão solido. Sinto-o me carregando, convertendo. Dessa vez conseguiu distorcer o que eu sentia. O desgraçado errou.

Relatividade (de novo). Um cubo de gelo é perene, leva uns minutos para derreter em temperatura ambiente, mas alguns rios também são, e levam meses para evaporar quando cessam as chuvas.

Então qual o tempo e a temperatura? Queria saber. Sei que chove. Gotas de falta que encharcam o ânimo, e essa, infelizmente, não está entre as pedras mais duras. Pelo menos chove, gosto do manto perfumado da chuva.

É cinza. Forma-se a penumbra da noite no dia, minha matiz preferida.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Quase dormindo.

É diante do nada que contemplo a imensidão que me cerca. Não, sem sentimentos, só uma sensação curiosa, diferente. Meu corpo pesa, minha cabeça pesa, meus olhos pesam, meus dedos pesam, meus pensamentos pesam, até meu coração pesa.
Até meu coração pesa, que estranho. Deve ser o sono, não consigo racionar direito, sei nem o que digito. Não sabia que ele sossegava anseios, se soubesse tomava soníferos... o que eu estou dizendo.
Sentir cansa, suga, inebria, droga, dá sono, e o sono serena, me desliga. Tenho a leve impressão de que sinto até dormindo, a solidão dos meus sonhos não me trás sossego. Hoje acordei paralisado, senti medo. Vou dormir.